Criar uma Loja Virtual Grátis
3. Heráclito
3. Heráclito

 

Heráclito

Heráclito nasceu em Éfeso, Ásia Menor, no século VI a.C. Foi crítico da tradição literária e da religião. Desprezava a multidão e os falsos sábios (Cf. MONDIN, Curso de Filosofia. Pág. 26). Segundo sua teoria, tudo que existe é um vir-a-ser, um movimento. Costumava dizer que ninguém podia banhar-se duas vezes no mesmo rio, porque ele muda e corre transformando-se continuamente. Nesse breve relato consiste a teoria do devir heraclitiano: tudo corre, tudo flui. Trata-se de um panta-rei, de um movimento do ser que, sendo, vem a ser outra coisa diferente do que é. Para Heráclito, “a substância primeira é o fogo, a menos consistente, a que mais facilmente se transforma”(MARÍAS, Julian. História da Filosofia. Pág. 31). O mundo é um constante fogo que se transforma. E as coisas no mundo têm origem no conflito, nos contrários.

Entretanto, a norma que regula os conflitos, que dá harmonia aos contrários, chama-se razão. Ela é o logos, o pensamento universal. A razão, para Heráclito, não é transcendente, nem está fora do mundo. Ao contrário: o logos é imanente, está nas coisas. Porém, o logos se confunde com Deus.

O que faz Heráclito se diferenciar dos outros pré-socráticos é o fato de ele constatar que odevir é sempre fruto da luta entre os opostos. O ser é, essencialmente, uma unidade na polaridade. A harmonia do ser, medida pela razão, se expressa na harmonia dos contrários (noite/dia; unidade/multiplicidade; identidade/diferença), embora nem todas as pessoas o saibam. Para Heráclito, a razão (que é imanente, mas ao mesmo tempo divina) é o critério da verdade.

Por isso, o homem deve buscá-la. Sua meta é construir sua existência sob o alicerce da racionalidade, o correto pensar. Para assim viver, o homem deve evitar o excesso de confiança nos sentidos. A vida na razão é um permanente estado de vigília, é um estar acordado, atendo aos enganos que provém dos sentidos. Portanto, os homens racionais devem ajudar os que estão dormindo nos leitos da irracionalidade. É compromisso de quem vive a vida na razão acordar aqueles que confiam demasiadamente nas pseudo-verdades dos sentidos, das opiniões. Aqui temos um preceito ético heraclitiano. É compromisso do filósofo ser educador, levar as luzes da razão para aqueles que não a possuem. Somente é feliz, bom e sábio aquele que edifica sua vida sob o alicerce do logos. Essa empreitada não é fácil. Exige do homem que conheça a si mesmo, para então buscar a verdade das coisas. A isso chama Heráclito de “via ascendente do logos”. Somente cresce nessa via quem se afasta do prazer e do erro, das paixões e das opiniões. Nisso consiste a suprema virtude.

Para Heráclito, “todo homem é responsável por seu próprio destino porque é ele quem decide seguir a via ascendente da verdade ou a descendente”(MONDIN, pág. 27), aquela das paixões e do erro. Entretanto, aquele que escolher a via da verdade, no momento da morte, unir-se-á ao fogo eterno.

Não há dúvidas que a teoria de Heráclito marcou uma mudança fundamental no pensamento grego. Porém, por mais importante que seja essa vertente do pensamento grego, é limitada. Explicita a existência do devir, constata a presença de forças contrárias e aborda com veemência a importância da vida na razão. Mas não explica a origem nem os pressupostos possíveis e imutáveis do devir e da vida na razão. Portanto, depois de Heráclito, há de se pensar ou descobrir novas formas de conceber a origem e o surgimento do Ser. É tarefa de Parmênides enveredar por esses caminhos.

 

 


Bibliografia

RESENDE, Antonio. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, editor. 2002.

MONDIN, Battista. Curso de Filosofia Vol. 1. São Paulo: Paulus, 2002.

ZILLES, Urbano. Teoria do Conhecimento e Teoria da Ciência. São Paulo: Paulus, 2005.

 MARÍAS. Julian. História da Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2004.