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27. Mecanicismo e Indivíduo
27. Mecanicismo e Indivíduo

 

Características Gerais do indivíduo Mecanicista 

No período de 1500 a 1800 a realidade do universo funcionava como uma grande máquina que funcionava tal como um relógio, cujas engrenagens são pensadas atomisticamente (possuindo autonomia). Esta visão atomicista se junta à dualidade cristã reafirmada por Descartes: o homem é composto por um corpo (matéria que possui extensão no espaço) e uma alma (intelectiva puramente transcendente). O homem começa a ser visto como uma máquina regida por leis matemáticas que são determinadasNuma analise mais detalhada do corpo na concepção cartesiana, pode-se observar que este corpo, composto de matéria (físico), é uma máquina, cujo funcionamento pode ser adequadamente explicado pelas leis mecânicas dos objetos no espaço. A outra parte do homem é composta pela alma (transcendente). Segundo o pensamento cartesiano o Deus criador fez o homem máquina e fez também a razão, o pensamento. O pensamento é superior ao corpo. Porque é por meio do pensamento que se garante a existência de um sujeito pensante: “Penso logo existo”. O homem só existe porque consegue pensar no seu Eu. O corpo e a alma são independentes, mas é preciso compreender que, para Descartes, existe uma glândula pineal que liga o corpo à alma. Esta glândula é responsável pela interface entre corpo e alma.Para as funções mentais, que podem influenciar o movimento, uma propriedade do corpo, Descartes acreditava que a alma estava unida a todas as partes do corpo e, portanto, o corpo converte-se na “sede da alma”. Neste aspecto a concepção de indivíduo, de acordo com o pensamento cartesiano é bastante parecido com a perspectiva platônica de que o “corpo é o cárcere da alma”.O Pensamento cartesiano foi muito aceito na época, mas devemos entender que no período em que vigorou esta concepção cartesiana, tinha-se a idéia do homem mecânico, que fazia tudo o que era pedido, usando muito o trabalho braçal e isso foi de grande influencia para deturparem as idéias de Descartes. Todavia muitos fizeram uma leitura errônea deste filósofo, para que fossem justificadas inúmeras ideologias. Principalmente com o desenvolvimento da indústria – deste assunto falaremos no último tópico deste trabalho.  

Vínculos do Homem com as Paixões da Alma

No pensamento cartesiano são muito abrangentes as relações que existem entre o homem e as paixões. Como vimos no tópico anterior, corpo e alma se encontram interligados pela glândulapineal, mas ambos são independentes: na alma se encontra aquilo que chamamos de paixão, enquanto no corpo comumente encontramos a ação.Para Descartes existe uma grande diferença entre um corpo vivo e um corpo morto. O vivo é composto de alma, enquanto o morto é como se fosse uma máquina sem funcionamento e, por assim de dizer, o corpo sem vida não possui uma ação.Na alma existem duas funções: as ações e as paixões. As primeiras dizem respeito às vontades – estas vêm diretamente da alma e parecem depender apenas dela. Quanto às paixões, entendemo-las como todas as espécies de percepções existentes.Como dissemos, na alma também existe o que chamamos de vontade – que pode ser entendida enquanto composta de duas espécies: a primeira diz respeito a uma ação da alma que termina na própria alma (Ex. quando queremos amar a Deus ou em geral, aplicar nosso pensamento a qualquer coisa que não é material). A outra espécie de ação termina em nosso corpo, como quando pelo simples fato de termos vontade de passear, resulta que nossas pernas se mexam e caminhemos.No corpo e na alma encontram-se as percepções, também sendo de duas formas: uma voltada para a alma e outra para o corpo. No que diz respeito à alma são as percepções de vontades ou outros pensamentos que dela dependem, existe forma de imaginação presente na alma e no corpo. Estas formas são evidenciadas quando a alma aplica-se a imaginar alguma coisa que não existe. As percepções causadas pelo corpo dependem dos nervos, mas há também alguns deles que chamamos de imaginações. Existe um grande relacionamento entre corpo-alma e as paixões relacionadas com o nosso corpo ou com qualquer de suas partes: seja quando temos da fome, sede ou os nossos demais apetites naturais. Sentimos tudo como nossos membros e não como nos objetos que existem fora de nós. Há, portanto, uma inter-relação entre corpo-alma e nossas paixões. Quanto às percepções da alma, são aquelas cujos efeitos somente podemos sentir, mas não se conhece comumente nenhuma causa próximas à qual possamos relacioná-las: tais como são os sentimentos de alegria, cólera e outros semelhantes.Para compreendermos todas essas coisas referentes à alma e ao corpo, é necessário saber que a alma esta unida ao corpo todo, não se pode dizer que ela esteja em qualquer de suas partes com exclusão das demais. O corpo, segundo o pensamento cartesiano, é uno e de alguma forma indivisível.

  Análise Reflexiva do pensamento cartesiano

O resultado prático da aplicação do pensamento cartesiano no ocidente foi bastante abrangente para diversos setores da economia, da política, da indústria, da religião e da visão de mundo. As idéias propostas por Descartes, ao pensar um indivíduo composto de corpo e de alma, foram muito mal interpretadas: setores da economia transformaram a visão mecanicista de indivíduo em produto de justificação para a ideologia da exploração do trabalho industrial (quanto mais o indivíduo produz em função do tempo, tal como uma máquina, mais é possível garantir lucro). É evidente que com desenvolvimento industrial o pensamento cartesiano contribuiu, e muito, para transformar o indivíduo numa mão-de-obra barata que trabalhasse sem pensar ou questionar sua condição de trabalho ou de “maquina que também produz”. Ainda hoje as pessoas são vistas como uma máquina que funciona em função do tempo e da produção. Junte-se isso à contribuição que a visão dualista do homem deu à religião ou, particularmente, ao cristianismo católico. Ao propor a dualidade do homem (corpo físico e alma transcendente) Descartes fortalece a visão religiosa de sua época e, por assim dizer, de nossa época que ainda continua concebendo o indivíduo como um composto de corpo e alma, ou do ponto de vista científico, de matéria e intelecto. A grande indagação que nos vem atualmente é se,realmente é possível conceber um indivíduo que possui um intelecto ou alma (imaterial) e um corpo (material)?! Será que não poderíamos entender o homem como uma totalidade, sem necessariamente dividi-lo?  Tais indagações nos afastam de possibilidades dualísticas do indivíduo.Não obstante a importante contribuição filosófica do pensamento cartesiano para o ocidente, é extremamente necessário que consideremos as várias leituras erronias que vários autores fizeram do pensamento de Descartes, reduzindo-o a interpretações simplistas ou exageradas. Às criticas ao dualismo, ao mecanicismo e ao método cartesiano, são por vezes, demasiado injustas. É preciso que nos disponhamos a entender as verdadeiras intenções de Descartes ao propor suas idéias e compreender de modo sério e filosófico as contribuições de suas idéias para a filosofia da época e, de certa forma, a de nossos dias.