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61. Ser Humano Holístico
61. Ser Humano Holístico

 

Homem Holístico

Concepção de indivíduo [a partir da visão holística]

Há muitas maneiras de entender o indivíduo na Pós-modernidade. A forma que escolhemos para compreender o indivíduo pós-moderno é a holística, por dois motivos – primeiro porque no último trabalho, sobre educação, estudamos essa visão; segundo por causa da relevância sempre atual das idéias sistêmicas, principalmente as de Edgar Morin e Fritjof Capra. Neste sentido, todas as reflexões que fizermos neste estudo estão baseadas nas idéias destes dois autores. Falemos um pouco da concepção de indivíduo a partir da visão holística ou sistêmica.Por muitos anos perdurou, principalmente pro influências das idéias platônicas, cristãs e cartesianas, a noção de que o homem é dual, composto de corpo e alma ou res-cogito e res-extensa. Essa visão dualista vem sendo re-pensada desde o início do século XX quando teóricos da biologia, da físico-química, da concepção sistêmica e da neurociência vêm propondo uma espécie de monismo material. No decorrer deste trabalho abordaremos melhor essa visão.A visão holística entende o homem como um todo integrado.

 Apesar de ser parte de um grande sistema [o planeta, a natureza], o ser humano é, em si, uma totalidade composta de várias partes. Neste sentido, não é possível entendê-lo somente de maneira dual. Há de se considerar que o indivíduo é muito mais do que corpo-alma ou espírito. Ele é um ente complexo, que possui dimensões existenciais complexíssimas. Nele o cérebro-mente apresenta-se como um sistema indivisível, que funciona com propriedade emergentes em vários níveis. Esses níveis, no homem, apresentam-se num plano interacional. Desse modo, o nível neuronal [que tem como substrato células nervosas organizadas e que funcionam de modo relativamente autônomo], o nível funcional que abriga as redes de neurônios e o nível conceitual, que permite ao homem simbolizar, via semântica, os conceitos que têm dos objetos funcionam na atividade cerebral humana. Através desses níveis cerebrais o cérebro transforma as informações recebidas em significados. Tudo isso para dizer que o homem é um todo integral e que não pode ser reduzido ao nível dual.Sob o horizonte da integralidade humana, a visão holística enfatiza a necessidade de se desenvolver, nos indivíduos, as faculdades do pensar, do sentir e do querer. Tratam-se dos três tipos de inteligências – a racional, a emocional e a volitiva.

Junto com a idéia de dualismo entre corpo e alma, ao longo dos anos, enfatizou-se somente a capacidade racional dos indivíduos. Hoje, depois de tantos avanços na neurociência e da neurobiologia não é mais possível pensar somente a parte racional do homem. É preciso considerar a dimensão emocional e volitiva que também fazem parte desse todo-complexo comporta todo indivíduo. Essas três faculdades devem ser consideradas fundamentais para o desenvolvimento integral do homem.O desenvolvimento do sentir exige a valorização de todos os aspectos essenciais para a saúde física e psíquica das pessoas. Já que o homem não é dual, mas integralizado, se uma das partes que o compõe apresenta-se problemática certamente todas as outras partes serão afetadas. Exemplo disso é quando não estamos harmonizados com a faculdade do sentir, do querer e do pensar. Normalmente, quando não estamos realizados emocionalmente, segundo a psicologia de Karl Roger e de Wilber, dificilmente assimilaremos conteúdos intelectuais adequadamente. Assim também, se não estamos seguros emocional e racionalmente nosso querer não nos impulsionará para a ação.

O que queremos demonstrar, com essas considerações, é que na visão holística o homem deve ser concebido numa dimensão global. Que ele deve manter equilibradas as partes que lhes compõe – razão, emoção e vontade. Nesse sentido, no homem integral, essas partes se inter-retro-relacionam. Alem disso, partes e totalidade estão unidas por uma relação contínua de dependência.Como dizíamos no trabalho de filosofia da educação, urge uma educação que possibilite aos homens o desenvolvimento de todas as partes que o compõe – a racional, emotiva, volitiva, espiritual etc.

SENTIDO DE VIDA NA PÓS-MODERNIDADE

Muitos pensadores ligados à filosofia e à sociologia quando se referem à Pós-modernidade concordam numa coisa – que vivemos num momento de crise. Para Z. Baumam, essa crise se caracteriza, principalmente, porque perdemos as ilusões da Modernidade. Em verdade, a Pós-modernidade é um momento de auto-reflexão. É um momento de a razão reconhecer-se limitada.

Entre os gregos o equilíbrio cósmico garantia o sentido da vida. Todos os cidadãos da Polis discutiam o destino da cidade de maneira democrática para construir uma cidade harmônica. Também do ponto de vista estético o modelo das obras de artes, principalmente as esculturas que apresentavam os bustos serenos, tranqüilos e equilibrados, era o equilíbrio. A ação moral dos indivíduos, que visava à equidade entre os extremos [Aristóteles] incitava o desenvolvimento das virtudes a fim de que o homem não cometesse excessos. No período Medieval o sentido da vida era Deus, que a tudo criara e para onde todas as coisas se dirigiam. Os homens, nesse período, deveriam confiar na Providência, esforçarem-se para viver retamente para dirigirem-se à cidade de Deus. Deste modo, as ciências, a ética, a política, a religião deveriam ser instrumentos para conduzir o homem a Deus, que era o sentido e o significado de todas as coisas.A Modernidade deixa de lado o equilíbrio cósmico e o Deus cristão. Mas, por outra parte, exalta a razão e esforça-se para construir o sujeito autônomo, pensante e senhor de suas vontades e paixões. É da autonomia da razão que nascem as grandes utopias – de uma ciência positiva, grande deusa; de um Estado forte, onde a vontade geral escolhia seu destino e expressava-o na lei [Rousseau]; e da razão que emancipava o homem, afim de que agisse através da boa-vontade e de um dever moral universal [Kant].

No século XX, com as duas grandes guerras, com a tríplice aliança entre ciência, à técnica e os meios de produção, vemos a racionalidade produzir grandes males – desde a morte dos 6 milhões de judeus, com técnicas sofisticadíssimas até os dramas causados pela exclusão social provocados pela economia capitalista industrializada. Sem equilíbrio cósmico, sem Deus e sem razão o homem entra em crise. É exatamente aqui que iniciamos nossa reflexão e correlação entre sentido de vida, novos valores e utopias de nosso tempo.Como dissemos, a marca de nosso tempo é a insegurança, a crise. A sociedade Pós-moderna é, por outro lado, caracterizada pela busca de identidade. A todo momento as pessoas estão se vinculando a grupos [emos, góticos, skihades etc] para preencherem o vazio existencial que sentem. É calor que essas pessoas não são convictas do que desejam. Não é por acaso que as utopias, tais como os valores de nosso tempo, são frágeis, imediatistas e sem perspectivas de futuro. Na nossa sociedade – onde a subjetividade das pessoas é produzida pelo sistema capitalista, através dos Meios de Comunicação – dificilmente encontraremos um jovem que, tal como os modernos, acreditem e lutem por um sonho de emancipar-se intelectual, política e socialmente. Para falar a verdade, é bastante comum, em conversas informais, constatarmos a repugnância que as pessoas tem para com os estudos e com a política. O único valor supremo que nos é pregado na Pós-modernidade é o do hedonismo, a busca pelos prazeres imediatos. O problema é que quando não temos valores sólidos, sentido de vida e utopias que nos movam, caímos no vazio, na angústia. Talvez a falta desses elementos seja a causa de vivermos numa sociedade tão precocemente estressada, depressiva e sem motivação. Em todo caso, não podemos perder as esperanças...

REFLEXAO CRÍTICA

Normalmente as críticas que são dirigidas à Pós-modernidade são negativas. Iremos propor o contrário. Há, para nós, muitas esperanças. Nossa experiência seminarística ensina que a crise, apesar de causar mal-estar, faz-nos morrer para reviver. Ou melhor, faz com que re-pensemos nossos valores, suas razões e fundamentos a fim de que re-ergamos nossa vida. Do mesmo modo, a Pós-modernidade passa por uma crise que não deve acrisolá-la. Ao contrário. Temos esperanças de que depois que vivenciarmos essa mudança de época iremos re-tomar nosso sentido de vida, nossas utopias e os valores que enaltecem, não só o homem, mas todos os seres do planeta.

Se há uma lição que a visão holística nos dá é esta – que nas redes de relações que marcam nossa existência planetária nada está definido e acabado, nem mesmo o fim. Portanto, existem possibilidades de nos superarmos a cada dia. O essencial é que consigamos transformar [e nisso os conceitos sistêmicos de auto-organização e de autopoiesis nos ajudam] o caos em ordem, a falta de sentido em perspectiva de vida, a decadência dos valores em humanismo renovado, o vazio em oportunidade de crescimento. Se conseguirmos fazer isso, mudaremos o curso da história humana, planetária e cósmica