Todos os racionalistas se esforçaram para deixar mais claro e discutir o problema do dualismo deixado por Descartes. Todos os racionalistas trouxeram profundas influências para o pensamento filosófico da modernidade. Trataram da questão do dualismo no que diz respeito à substância.
MARLEBRANCHE foi um religioso da Congregação do Oratório que teve influência agostiniana e de Descartes, mas este autor não aderiu à teoria do inatismo das idéias. Segundo Marlebranche a alma se refere ao intelecto puro e à vontade pura; enquanto ao corpo atribuem-se todas as outras funções físicas. De modo geral, os racionalistas acrescem contribuições filosóficas a partir da questão psicofísica deixada por Descartes.
Desse modo, para Marlebranche as funções da alma se reduzem ao pensar e ao querer. Ele entende que os corpos não exercem ação sobre a alma e vice-versa. O querer é um intermédio a partir da vontade de Deus. Não há inter-relação entre corpo e alma – tal como afirmava o pensamento cartesiano. Aqui Marlebranche demonstra a radicalização do dualismo. Segundo este autor, para termos conhecimento sobre a realidade (movimentos, fenômenos e acontecimentos em geral) é preciso entender que a alma tem união direta com Deus. Ela é uma espécie de extensão de Deus. Desta forma, a alma conhece todas as coisas a partir da vontade de Deus. O que deriva desta idéia é a constatação de que nós não temos acesso ao conhecimento das coisas em si. O que temos são idéias, arquétipos, imagens que são fornecidas por Deus. Nem mesmo a alma em si é possível de se conhecer.
Nas coisas não existem causalidades, porque não há um argumento lógico. As coisas acontecem pela simples ocasião da vontade de Deus. A nossa alma, como dissemos, é quase como uma extensão da extensão de Deus. Deste modo Marlebranche faz uma distinção do que pode ser conhecido por meio da fé e o que se conhece pela razão. A fé consiste num argumento pedagógico, de caráter provisório. As coisas devem ser conhecidas de modo racional. Ainda segundo este autor, conhecemos apenas a idéia das coisas e não elas em si, pois as coisas acontecem pela vontade divina que age de modo geral. Mas devemos entender que o querer desviado (pecado) é contrário à vontade de Deus. O pecado é uma deturpação do querer individual, por isso Marlebranche não nega o livre arbítrio.
De acordo com as idéias deste religioso conhecer as ligações matemáticas (visto que ele era racionalista) dos fenômenos é conhecer as ligações entre as idéias (arquétipos) que são a função da ciência. Fazer ciência é conhecer mais sobre as coisas de Deus. Marlebranche usa da teoria do ocasionalismo para dizer que corpo e alma não são duas substâncias distintas. Elas ocasionalmente estão presentes no homem por vontade de Deus. Deste modo, Marlebranche tira a relação corpo-alma e dá novo horizonte de discussão ao problema psicofísico deixado por Descartes