Criar um Site Grátis Fantástico
49. Hannah Arendt
49. Hannah Arendt

 

 

Hannah Arendt Crime e Responsabilidade –

Hannah Arendt  ressalta com ênfase que sob o terror totalitário deu-se à luz, por assim dizer, não apenas um novo tipo de crime, mas também um novo tipo de criminoso. Um novo tipo não por o criminoso ser parte de uma organização burocrática e basicamente cumprir ordens, mas por ser inimigo do gênero humano, por cometer crimes contra a humanidade. Para Hannah Arendt, ela e Jaspers estão de acordo sobre a idéia de que embora o crime de Eichmann tenha sido cometido primariamente contra os judeus, ele não se limita aos judeus ou a questão judaica. Para a autora, o problema não era a retroatividade da lei, mas sua adequação ao novo crime representado pelos atos de Eichmann. Foi quando o regime nazista declarou que o povo alemão não só estava disposto a ter judeus na Alemanha, mas desejava todo o povo judeu desaparecer da face da terra que passou a existir o novo crime, o crime contra a humanidade, ou contra a própria natureza da humanidade. A implicação de Eichmann nos crimes era inquestionável.

 

À Hannah Arendt é fundamental estabelecer, não obstante, que o tipo de especulação que se seguiu, sobre a historia ou caráter alemão, em nada contribui para a compreensão do tipo de motivação que fez com que as pessoas tomassem parte da maquinaria de destruição que foi o totalitarismo. A figura de Heinrich Himmler que teria sido responsável pela organização dos massacres. Onde ele foi um bom burguês, com toda aparência de um bom pai de família. O governo nazista seria uma organização burocrática cuidadosamente organizada para absorver a solicitude do pai de família, na realização de tarefas quaisquer que lhe fossem atribuídas, e para dissolver a responsabilidade em procedimentos de extermínio em que o perpetrador de um assassinato era apenas a extremidade de um grupo de trabalho.Himmler teria então organizado um sistema em que as pessoas normais, que não possuíam qualquer natureza criminosa e nunca chegaram a matar por iniciativa própria um judeu sequer, mesmo com toda propaganda anti-semita, trabalhassem sem problema na maquina de extermínio. O comportamento bestial das tropas nazistas e a generalização da hipocrisia inspirada pelo medo colocavam apenas questões políticas há criminosos em todas as comunidades e o que Hitler teria feito foi justamente inverter o principio e tornar o crime à regra. Temos dizer que testemunhamos o colapso total de uma ordem moral não uma vez, mas duas, e este repentino retorno à normalidade, contrariamente ao que é muitas vezes complacentemente admitido, pode simplesmente reforçar nossas duvidas.Eichmann admitia que a Alemanha tão pouco marcada pelo patriotismo e pelas virtudes clássicas, era em sua opinião, ambiente mais que propicio ao desenvolvimento desse homem normal envolvido no aparato do extermínio.

 

Para Hannah Arendt, o nazismo impresso na mente alemã consiste primariamente em um condicionamento através do qual a realidade cessou de ser a som de fatos sólidos inescapáveis e tornou-se um conglomerado de eventos e slogans sempre em mudança, nos quais uma coisa pode ser verdadeira hoje e falsa amanhã. A política totalitária, que destruiu completamente a zona neutra em que comumente é vivida a vida quotidiana dos seres humanos alcançou o resultado de fazer a existência de cada individuo na Alemanha depender seja da perpetração de crimes, seja da cumplicidade neles. Ao regime importava eliminar todos os sinais visíveis de distinção, não apenas apara diluírem a responsabilidade pelos crimes entre o povo alemão, mas também para preservar a possibilidade de organização de um movimento secreto do futuro.É importante para ela distinguir entre culpa e responsabilidade. Os responsáveis seriam os que de algum modo contribuíram de fato para a ascensão de Hitler ao poder e a sua manutenção. Os criminosos de guerras seriam basicamente vitimas de sua própria incapacidade de avaliar e de sua atração romântica por gangsteres. O grau de responsabilidade aumenta quanto mais longe nos colocamos do homem que maneja o instrumento fatal com suas próprias mãos.

 

Em sua opinião, como próprio tribunal reconheceu, a magnitude dos crimes foi possível fundamentalmente devido a uma burocracia gigante sustentada pelo governo. Eichmann era uma engrenagem. E todas as engrenagens da maquina, por mais insignificantes que sejam, são na corte imediatamente transformadas em perpetradores, em seres humanos.Se Hannah Arendt censurou a compreensão do genocídio como um mero assassinato de muitas vitima se o tratamento do julgamento como uma espécie de vingança do povo judeu, não tinha em mente evidentemente isentar Eichmann de suas responsabilidades, mas, na esfera legal, chamar a atenção para o fato d que esse tipo de compreensão atracava a instauração de um código penal internacional, o único legítimo para lidar com crimes que, por violar a comunidade de todos os seres humanos sobre a terra, se colocam para além das competências das leis das nações.

 

Hannah Arendt salienta que faz parte da própria natureza das coisas humanas que cada ato cometido e registrado pela historia da humanidade fique com a humanidade como uma potencialidade, muito depois da sua efetividade ter se tornado coisa do passado. Nenhum castigo jamais possui poder suficiente para impedir perpetração de crimes. Ao contrario, a despeito do castigo, uma vez que um crime específico pareceu pela primeira vez, sua reaparição é mais provável do que poderia ter sido a sua emergência inicial.