34. Hegel
34. Hegel

 

Friedrick Hegel

 Friedrick Hegel nasceu na Alemanha, no ano de 1770 e faleceu em 1831. Foi ele quem desenvolveu o último grande sistema filosófico com um enquadramento político e social, ao mesmo tempo. Hegel se relaciona com todos os acontecimentos de seu contexto, que, aliás, estava marcado pela falta de liberdade. A Alemanha tinha acabado de vivenciar a guerra dos 30 anos, o despotismo feudal, o fato de ela não ser um Estado independente, de ter sofrido um ataque cultural. Além disso, esse país tinha uma população camponesa enorme, o mínimo de industrialização e a ausência de uma classe média que fizesse crescer a economia. Havia, dadas as situações contextuais, a necessidade de se criar um Estado Racional – proposta elaborada por Hegel. Mas o modelo desse Estado deve ser crítico, baseado na Polis grega. Esse foi o intento inicial de Hegel: desenvolver nos camponeses o espírito de ‘povo’, para depois se construir a consciência de indivíduo. A via que Hegel propõe para se construir essa subjetividade é o cristianismo e a liberdade só deveria ser desenvolvida quando os sujeitos tivessem pura de si: o conhecimento de sua subjetividade. Ela poderia consistir na satisfação da vontade, das necessidades dos sujeitos. Somente com essa subjetividade os homens poderiam operar suas liberdades. Além dessas constatações, é bom recordar que, segundo Hegel, essa subjetividade deveria ter um caráter livre, apesar de esse autor achar que a religião era um aspecto fundamental na vida de um povo. Mas, não nos enganemos: Hegel estabelece uma crítica à positivação da vida religiosa (torná-la imitável através de códigos e dogmas). Para ele, a positivação da religião levava, inevitavelmente à alienação. O mesmo princípio de positivação vale também para a política. Para Hegel, era o princípio racional livre quem deveria reger a política de um povo.

 

Esse autor acreditava que a Revolução Francesa consistia no valor supremo da racionalidade que organiza a sociedade. Sua principal máxima é: “todo saber é racional”. Trata-se de uma aproximação do “penso, logo existo” cartesiano. Portanto, a verdade é aquilo que realiza a existência e os fins da razão. É bom lembrar que, tal como Hegel, a Revolução Francesa também indagava que o indivíduo era um {sujeito subjetivo} no todo social. Dessa forma, não saber-se livre é ignorância. Por isso é preciso que o indivíduo saiba que é livre.Como dissemos, em Hegel temos o último grande sistema filosófico. Ele relaciona natureza e espírito para desenvolver uma crítica à filosofia. Esse filósofo pensou em elaborar uma teoria unitária, total e fechada sobre a realidade – por isso o esforço em adequar natureza e espírito. Para estabelecer este sistema Hegel teve que superar a filosofia kantiana, nos seguintes pontos: fenômeno e noumenon & razão e entendimento. Além da distinção entre o ser e o dever. A grande questão é a separação entre finito e infinito. Essa separação diz que o finito é separado do infinito e se torna finito, diferente do primeiro finito.

 

Com esse raciocínio, Hegel muda a própria noção de finito e, com isso, muda a própria filosofia. A filosofia teria que deixar de ser uma tendência para o saber para se tornar ciência, um saber absoluto. Ela deve se configurar como um sistema racional absoluto, que abarca a totalidade do real. É bom lembrar que essa idéia não exclui a possibilidade de haver uma interpretação racional da realidade. A filosofia vive no, do e para o mundo... de forma racional.Outra coisa importante em Hegel é a questão da estrutura dialética. Ela tenta entender e exprimir a situação real do mundo. A dialética tem um caráter de implantação de uma realidade de mundo que é rompida, contraditória. É exatamente esse rompimento que precisa ser superado. A dialética mostra a contradição do mundo e, ao mesmo tempo, a necessidade de superação dessa contradição. Seguindo esse pensamento, a história é entendida em forma de espiral, formada pela dialética – tese, antítese e síntese. Funciona dessa maneia: dado um problema x, espera-se a solução y. Se não obtêm-se outra solução, precisamos verificar o que aconteceu. A dialética oferece, necessariamente, e uma síntese que supera a tese e a antítese. Ela se coloca numa posição radical frente a toda interpretação parcial da realidade. Desta forma, aquilo que é está em relação com a totalidade do real. A conclusão que podemos tirar é que qualquer coisa não chega a ser o que ela é se estiver sozinha.

 

Portanto, toda a realidade (que é independente) está em relação com o todo. Cada coisa só é o que é – ou o que será – num processo de devir. A coisa está sendo. É assim que compreendemos que a realidade não é fixa, nem determinada. Ela é um processo contínuo de transformação, mas seu motor é desajuste (contradição, mas ao mesmo tempo, intenção da totalidade). Trata-se de uma inquietude que é o motor da dialética.Tão importante quanto à dialética em Hegel, é sua noção de Espírito subjetivo. Esse espírito se manifesta em três áreas especificamente. A saber: na antropologia, na fenomenologia e na psicologia. Na primeira o espírito aparece como alma, mas existe nele uma individualidade. A alma não é a mesma para todos. No entender de Hegel, algumas capacidades são (no sujeito) inatas – o que possibilita que as pessoas sejam diferentes. Dessa maneira, há uma distinção da alma real, que está inserida na realidade. Quanto à fenomenologia, Hegel diz que ela é a autoconsciência, a razão. Mas a razão segue uma seqüência de conhecimentos (idéia platônica), que inicia com a realidade sensível, passa pelapercepção, e somente depois, chega-se ao entendimento. É assim que se constrói a autoconsciência. Já a manifestação do espírito na psicologia consiste numa autoconsciência – não mais individual – social. É aqui que surge o conflito entre a maneira como compreendemos o mundo, com o mundo, tal como é e – como se não bastasse – com as outras consciências que também lêem o mundo de forma diferente. A razão depara-se com um conflito entre a interioridade e a exterioridade (a realidade do mundo). Aqui ocorre a passagem ou a saída do espírito subjetivo para o espírito objetivo. Para Hegel, a psicologia se divide em espírito teórico (intuitivo, teórico e de reprodução imaginativa); espírito prático (envolve sentimentos e impulsos) e espírito livre (onde se abarca a liberdade e o interesse).Falemos um pouco sobre o espírito objetivo. Ele se apresenta através do direito, da moralidade, da eticidade e da sociedade civil. A tarefa fundamental do espírito objetivo é realizar a liberdade efetivamente. Quem faz isso é o direito. Mas a moralidade tem um papel específico: tornar possível o exercício da autoconsciência e a exercer a liberdade assumindo a responsabilidade e nos tornando sujeitos de ação. Já a eticidade abrange a análise do conceito de liberdade.

 

O ponto de partida da eticidade é a família (célula do amor). Dela passamos à sociedade, onde nos relacionamos com vários sujeitos. Aqui entra o componente da sociedade civil que tem como base o trabalho (que atende ao conjunto particular de necessidades de uma sociedade). Essa idéia de trabalho é muito bem aplicada por Marx no século 19. Aliás, o marxismo é uma aplicação materializada da teoria hegeliana. Se, como dissemos, o direito tem uma função normativa, o Estado consiste no resultado de tudo isso. Ele é a última forma incluída na somatória toda. O Estado é o resultado de um direito que garanta a liberdade – de sujeitos de moralidades, fundamentados na eticidade, que começa na família e depois se estende à sociedade civil, que é organizada com base no trabalho. Tudo isso funcionando produz o Estado, que, por sua vez, se manifesta no espírito objetivo.Falemos um pouco e brevemente das características do Espírito (do modo geral). Hegel entende o Espírito como algo individual, ativo e vivo. Ele é a consciência. A existência do Espírito consiste em ter-se a si próprio como objeto. Ele está em si mesmo e, por isso, é livre e a liberdade é, por assim dizer, a substância do espírito. Ainda é importante mencionar que o Espírito sabe e, saber significa ter consciência de um objeto racional, ou seja, ter consciência de si mesmo.  Dessa forma, o indivíduo é também objeto para ele mesmo e na medida em que ele saber ser objeto de se mesmo, ele se reconhece livre. Noutras palavras, a liberdade consiste em ter consciência de si mesmo e em saber-se livre. O contrário é escravidão. Mas, torna-se necessário salientar que o Espírito não é algo fixo, imóvel ou acabado. A atividade é a essência do Espírito. É daí que concluímos que a liberdade é uma contínua negação de todo que ameaça negá-la, pois, assim como acontece com o Espírito, a Liberdade é dinâmica e ativa.Uma coisa que não podemos esquecer é que o Espírito não pode ser pensado de um modo adequado e suficiente, na acepção desses termos. Já dissemos que ele é ativo, que não pode ser confundido com formas interioristas ou religiosas.

 

O Espírito e a Liberdade são dinâmicos, se constroem numa dialética. O Espírito é. Mas, ao mesmo tempo, ele nega-se a si mesmo afim de que tenha consciência de si e possua a liberdade.Contudo, é necessário compreender que ter consciência de si consiste em ter um espírito objetivo. Ou seja, é na medida em que o indivíduo se conhece como objeto, portanto fora de si, que ele pode chegar a ter consciência de si mesmo. Mas, como já mencionamos, ter consciência de si mesmo não significa negar a liberdade. Pelo contrário: é tendo consciência de si (objetivando o Espírito) que o indivíduo sabe-se livre. Em resumo, o Espírito – por ser dinâmico –, ele é sendo. Conhece-se a partir de seu desenvolvimento. Porem, enquanto atividade, o Espírito é sujeito. Ele se conhece na relação.É evidente que a consciência de que se é livre possibilita a plenitude da liberdade, pois se alguém não se reconhece livre é escravo. A liberdade tem a ver com a negação de tudo aquilo que ameaça a liberdade. Lembremos que o Espírito é algo inteiramente individual, próprio do “eu”. Além disso, ele é ativo e pensante. É capaz de sair de si, fazer-se objeto e tornar-se um fato, para se vê a si mesmo. É aqui que se dá a autoconsciência. Para finalizar, resta dizer que o Espírito tem três dimensões: a do “eu” – onde o espírito é inteiramente subjetivo e o sujeito encontra-se consigo mesmo; a do sujeito – que se encontra no Espírito objetivo: a consciência do indivíduo está em relação com as outras consciências presente no mundo; e a do infinito – aqui o indivíduo encontra-se com seu ‘eu’, com os outros sujeitos e com a totalidade da realidade.

 

Do pensamento hegeliano, resulta o idealismo, do tipo religioso. Também surge à direita e a esquerda hegeliana. Que trataremos a partir de agora.Comecemos pela direita. Falemos do Espírito absoluto, antes de abordar a temática proposta. Ele se manifesta na arte, na religião e na filosofia. Para se chegar a esse nível é preciso que o homem esteja bem alimentado, de barriga cheia. Essa estrutura precisa do Espírito objetivo e subjetivo. Para Hegel a arte é uma manifestação material dos nossos sentidos. O belo é fruto de uma obra humana. Ele toca o Espírito do homem por meio dos sentidos. A arte provoca uma reação imediata que arrebata o indivíduo que ver. O problema dessa relação é que ela depende do elemento externo. A religião, ao contrário, nos coloca frente à expressão do Absoluto, onde não conseguimos identificar uma forma. A religião propõe uma suposição do conhecimento de Deus. Coloca-nos frente a uma consciência infinita. Vejamos: nossa consciência finita encontra-se com Uma outra, infinita. É a partir disto que a religião oferece uma representação imaterial (Deus). Já na filosofia não existe manifestação. É por isso que nela está impresso o processo dialético. Trata-se de uma busca por fundamentos, pois a filosofia tira e suprime qualquer forma de representação. O objeto da filosofia é a unidade do processo dialético... Seu fundamento é a distinção e o critério do que nos mantém livres!