A(s) realidade(s) e o modo como a(s) conhecemos
Segundo Aristóteles, o homem tende, por natureza, ao saber. É próprio do ser humano ter consciência de que sabe. O homo sapien, sapiem é aquele que sabe o que sabe, ou seja, que é auto-consciente. Ele conhece os objetos em sua volta e os domina.
Uma das metas da ciência, enquanto um dos muitos tipos de conhecimento, é descrever, prever e manipular os fenômenos e objetos da realidade. Entretanto, o fato de o ser humano tender, na linguagem aristotélica, ao saber requer que ele utilize suas faculdades mentais para tal exercício. Por esse motivo, todo conhecimento que temos sobre nossa realidade manifesta-se por meio do pensamento. E pensar é articular signos, ou seja, ligar ou unir as representações em cadeia. Mas, cumpre-nos perguntar como e de que maneira conhecemos os objetos da realidade. É primária a observação de que, do ponto de vista objetivo, só conhecemos os fenômenos e-ou objetos por meio da experiência sensível, do exercício da razão ou pela experiência religiosa. Sobre essa última possibilidade de conhecimento, há muitos pontos divergentes.
A experiência sensível, aquela que provem dos sentidos, possibilita-nos conhecer os objetos, o ser das coisas, através do uso dos sentidos. O paladar, o olfato, o tato, a audição e a visão são as janelas por onde passam informações necessárias e úteis para conhecermos a realidade. Porém, são janelas necessárias mas não suficientes. Aos dados sensoriais associamos nossa capacidade de articulação mental, nossa capacidade de abstração. Essa arte de abstrair os objetos nos permitem re-conhecê-los em, necessariamente, os ver, tocar, ouvir, cheirar ou mesmo degustar. Por esse motivo, podemos imaginar e saber (portanto, conhecer o que é a cordilheira dos Andes, sem necessariamente estarmos lá) sem fazermos diretamente uma experiência sensitiva. Isso ocorre porque somos capazes de abstrair conceitos gerais dos objetos. No entando, só podemos conhecer de fato a realidade, tudo aquilo que existe, se somente se pensarmos a partir dela. É por isso que o conhecimento provindo da fé não comporta seguridade, uma vez que os objetos da fé não são acessíveis à abstração racional e à experiência dos sentidos. Por outro lado, mesmo usando a capacidade de abstração ou articulando nossos sentidos para conhecer a realidade, só a concebemos parcialmente. O que significa que nosso conhecimento é, por assim dizer, limitado.
Para conhecermos os objetos em nossa volta precisamos pensar sobre eles. Mas o pensamento se articula com nossa capacidade de estruturá-lo, de instrumentalizá-lo. Daí a necessidade de estabelecermos raciocínios lógicos para conhecer a realidade. Sobre a lógica, podemos dizer que nossas argumentações, para ser racionais, devem estruturarem-se de três modos diferentes: a) através do raciocínio dedutivo, que parte de uma afirmação (proposição) geral e conclui uma proposição geral ou particular que se apresenta como necessária. Um exemplo de raciocínio dedutivo se dá quando afirmamos que todo metal se dilata com o calor; o ouro é um metal; logo, o ouro se dilata no calor. Esse tipo de raciocínio é bastante utilizado nas ciências exatas, biológicas e em algumas da área das ciências humanas. Aristóteles chamava esse raciocínio de silogismoexatamente por conter, em princípio, certo rigor lógico; b) outro raciocínio é o indutivo. Para essa postura, é preciso agregar um certo número de proposições particulares, que sendo semelhantes, podem ser generalizados por meio da indução. Exemplo de raciocínio indutivo se dá quando dizemos que o cobre, o ouro, a prata, o ferro, o zinco etc. são condutores de eletricidade; ora, esses elementos são metais; logo: todo metal é condutor de eletricidades.
A estatística, ramo da matemárica, e a probablidade, ramo da genética, utilizam muito desse tipo de raciocínio; c) por fim, a analogia. Essa postura ocorre quando encontamos semelhança entre casos-experiências ou proposições particulares e, por analogia, estabelecemos uma regra geral para o entendimento dos respectivos casos, experiências ou proposições. Utilizamos esse tipo de raciocínio (que nos é muito útil no dia-a-dia) quando afirmamos que tal roupa, por exemplo, fica bem em tal atriz; logo, ficará bem naquela pessoa. Ou mesmo quando um amigo nosso fica saudável tomando certo medicamento e, por analogia, também nós ficaremos bem se, com os mesmos sintomas, tomarmos o mesmo medicamento.